sexta-feira, 27 de julho de 2007

Sabático


Tenho um amigo (esse da foto, à esquerda, bem estiloso) que fez os 800km da caminhada de Santiago de Compostela. Imagino como deve ser, o que se faz e o que se pensa. Estou tentando fazer uma caminhada, mas bem reduzida.

Acho que todos deveria ter um período sabático. Eu vou fazer o meu.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A irresistível corda do caranguejo

Escrevi este texto dia 5/3/2007, depois de um carnaval na Bahia ao lado de Paulinho, Barbie, João, Gabi, Lívia e Augusto. Depois de um trio com o Babado Novo.



A corda do caranguejo arrebentou com as minhas pernas. Não aquele que enfileira a contragosto os crustáceos peludos dentro dos balaios nordestinos de feira malcheirosa. Aquela, suja e rota, é bem vista em dedos calejados de desentocar os parrudos lamacentos. Dedos que amarram com maestria cada um dos bichinhos que são saboreados com pancadas certeiras ou não nos quadradinhos de madeira e martelinhos improvisados de barracas nas praias.

Não, a corda que me arrebentou enfileirava braços suados e rostos felizes, que pulavam desorganizadamente em fileiras pra lá e pra cá.

A massa caranguejeira que só anda de lado, não pára, não cansa, segura na corda e vai no embalo.

Fui na primeira, na segunda e, na terceira, já estava tal qual uma moqueca de siri catada. Aos pedaços, a quarta corda foi só com os ombros e a cabeça.

Quem já pulou uma corda dessa sabe do que estou falando. Aquele cansaço imediato, que deixa o pobre exausto. Para, no dia seguinte, se transformar em dor da ponta da unha do dedão até o fio de cabelo da moleira.

Dói tudo. Pés em bolhas, sola inchada, dedos esmigalhados e tênis imundo.

Mas a alma lavada.

A primeira corda de caranguejo não se esquece. Duas semanas depois, e ainda tenho o osso da canela, os joelhos e os pés com dores inconfessáveis.

É, ando assim: meio de banda, tal qual um caranguejo.

sábado, 21 de julho de 2007

Olho de Thundera



Aquele que tudo vê. A visão além do alcance.

O saco plástico e a carreira

E um amigo me conta sobre a singela mania de um jornalista que insiste em carregar um saco plástico dentro da bolsa/mochila. Ao ser perguntado, ele diz na maior candura: é para o dia de amanhã. Explico: ele não quer ser surpreendido com uma demissão e não ter um mísero saco plástico para colocar suas coisinhas e sair com alguma dignidade da redação de um jornal carioca.

Entendo a alma sofredora do coleguinha. Eu radicalizei. Não levo saco plástico na bolsa. Aliás, há dois anos resolvi limpar as gavetas e armário com as coisas pessoais que levamos para o local do trabalho: fotos da filha, do marido. Nada disso. Decidi retirar tudo e agora me sinto mais leve. E, se vier a hora da despedida, não precisarei de nenhum saco plástico.

Pode ser besteira minha, mas acho deprimente aquele saco preto, de lixo, carregado de livros, pastas, blocos de anotação. Não, isso me lembra o trabalho da Defesa Civil recolhendo cacos, dejetos.

Resolvi fazer gestão da minha vida e carreira há muito tempo.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Umbigo e gestão de pessoas

O problema de gestão de pessoas numa redação é o umbigo.

Aquele umbigo que lida com holofote ocular o tempo todo, que é apalpado, abanado e seduz ao ponto de fixar a atenção do dono do umbigo - este, coitado, fica tão cego diante da luz que não levanta a cabeça. É como se fosse um grande amor por si mesmo. Cada frase, cada palavra, cada asneira assume uma importância além do alcance dos pobres mortais.

Mas, além do umbigo, tem o caranguejo. Explico: o ambiente de uma redação me lembra, muitas vezes, uma corda de caranguejo, onde os bichinhos se debatem e querem sair daquela corda porque sentem o que virá: o calor de uma panela e sua água fervente. É uma briga pela sobrevivência, um passando por cima do outro. Mas, quando se olha a uma curta distância, o que se vê é um emaranhado de pernas que não caminham para lugar nenhum, ficam atadas umas nas outras.

Então imagine: o umbigo e a corda de caranguejo. Tente fazer gestão num clima com essa temperatura.
Não tem curso de gestão que ensine como lidar com o ego alheio, essa tarefa para poucos Hércules. E ego de jornalista é terrível. A arrogância de se achar acima do bem e do mal. Pensar que seu escrito é mais importante do que todo o resto apurado durante o dia.

As apostilas, os artigos de gestão não mencionam isso. Não dá para aplicar num ambiente criativo, como o de uma redação, as fórmulas e pirâmides deste ou daquele autor mirabolante. A teoria nos serve para repensar e ver que é possível fazer diferente. Uma caminhada árdua e sem grandes vales de eco. Coisa para Ghandi.

E um exercício diário para fugir da tentação do nosso próprio umbigo.

Aprendizado



Ouvir, rir, dividir sons e sonhos. Caminhar junto.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Elis, O Rei da Xebaia



Um senhor de 60 e poucos anos, com muita grana. Ele se intitula "Elis, el terrible, o Rei da Xebaia", seja lá o que isso signifique. Dizem que era um rapaz pobre com um sonho de ser cantor de trio elétrico, como todo baiano. E dizem que teve que esquecer o sonho. Cresceu, ficou rico e voltou ao sonho de juventude com menos cabelo e muitos quilos a mais na cintura. Elis é um alter-ego, uma coisa meio Elvis Presley. Meio mesmo, porque ele comprou uma peruca "nos Estados Unidos", como gosta de dizer, e tem certeza que ficou a cara do cantor america. E coloca, em cima de um trio elétrico alugado, uma moto Harley, um jet sky ou qualquer outra coisa de ostentação. Elis passou na primeira noite do carnaval de Salvador (uma quinta) numa animação de sonho. Alguns músicos e duas mulheres que fazem o corinho de chorar de rir.
O travestido comerciante vira artista no carnaval. Montado no alto do trio, ele canta o "Rock das Aranhas" ou então uma coisa como "agarra o homem, meu bem. Pensando em mim". Um coisa meio twist, meio Jovem Guarda, meio qualquer coisa dos anos 60,70. Qualquer música vira uma saudosa melodia da juventude.
Ele passa, arranca risos, aplausos.
Segue, invariavelmente, com uma sunga preta que me lembrou o Sr. Incrível nos primeiros minutos do filme, apertadinha, a barriga pulando e uma bundinha mínima.
No dia seguinte, estava lá. No mesmo figurino. Arrasando no Farol da Barra.
Elis, "el terrible" virou uma atração na folia baiana.
Depois dele veio o Psi,Psirico. Mas essa é outra história. Depois eu conto como Gabi, Barbie, Augusto e eu levantamos a moral do pobre cantor, que se achou o tal com tantos gritos. Tinha até uma turma de mineiros que acompanhava cada movimento do grupo carioca-gaúcho. Elis era nosso ídolo. Psirico, nossa farra musical.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Faxina

É dia de faxina. Na alma. No corpo, nas dores, no cansaço que me surpreende de madrugada.

Passos

Difícil caminhar depois da invisibilidade. O cômodo estado de estar sem ser visto, percebido. Querer desamarrar dores e tristezas. Passos lentos para a caminhada. A estrada se mostra muito estranha, esquisita, ondulada. Um sopro de vento seria muito bem recebido.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Um pouco Blade Runner

Dormir um pouco e bem. Bom demais. Mas eu realmente me senti diferente depois de dormir tanto e ter um sonho muito estranho. o mundo quase acabando, esquisito um terremoto, poucas pessoas, bichos estranhos. Elefantes, macacos com bundas rosas e uma inacreditável viagem dentro de um puta lugar, meio labiranto, que tinha que pagar para entrar e rezar para sair. Eu, Babi e uma pessoa, um rapaz não sei quem era....às vezes me parecia guga,outras não.
E uma coisa meio de várias etapas, várias pessoas ficando perdidas no labirinto, e depois sobre voando num carrinho esquisito e vendo lá embaixo pedaços e etapas, tantos perdidos. E o mais engraçado era prever uma coisa meio escavação, que eu já vira antes, e chegar num corredor e dar de cara com uma mulher saindo de uma sala e um homem dizendo: essa pelo menos sabe o que á ultra, os outros nem isso. E não vi quem estava na sala.
O telefone tocou. Estranha sensação de saber que tinha chegado e podia achar algo.
Cenário futurista, meio Blade Runner. Estranho, muito estranho.

Second Life

Viver uma outra vida, fazer diferente. O mote que serve de roteiro para tantos filmes e livros acaba sendo o rumo que muitos querem tomar. Confesso que essa vida virtual me fascina e me coloca na varanda (com o Paulinho, é claro). Estou gateando, como diz a maestra Raquel. Ouvi uma história que achei muito interessante para contar. Contei e foi postada (nossa, olha o novo verbo) no blog do Ancelmo Góis. Gostei do texto que fiz de uma tacada só. Me deu a certeza de voltar a escrever mais e mais.




Acho que passaram a mão na bunda do meu avatar!

A frase me pegou de surpresa e meu amigo, 40 e poucos anos, me relatou em detalhes a grande aventura no Second Life. Aventura que durou quase uma hora, mas o suficiente para transitar pelado, cair numa moita e descobrir que o computador caseiro não é tão turbinado a ponto de transformar um passeio virtual numa coisa bacana.
A incursão começou ao lado da mulher e uma certeza: vamos ver como é essa coisa de Second Life. Depois de ter passado pela burocracia de baixar o programa etc, e tal, ele viu que seu bonequinho estava nu. Sim, ele chamou de bonequinho porque avatar é coisa para os nativos do Second Life.
Até aí, tudo bem. Não fosse o desespero de tentar vestir o pobre boneco que, ainda por cima, tinha uma franja Emo. Isso mesmo, nu e esquisitão, ele não conseguia caminhar e se vestir. O processo tão demorado fez com que o seu avatar, com nome de personagem humorístico do Chico Anísio, pagasse mico virtual. Outros "bonequinhos", como ele narrou, passavam ao lado, olhavam para a bunda do seu avatar - e ele pode jurar que um deles passou tão rente que lhe pareceu ter visto passar a mão na bunda do seu avatar.
Desmoralizado e cansado de tanto teclar, ele conseguiu, finalmente, fazer seu avatar caminhar. Mas a aventura o levou a cair numa moita e acompanhar diálogos dos outros avatares achando aquilo tudo esquisito demais. Nu, esquisitão e na moita. Não podia piorar. Podia.
Depois de muito teclar, ele conseguiu vestir seu avatar com o básico: jeans, camiseta e tênis. Conseguiu ainda cortar a franja Emo e dar um certo ar de dignidade. Mas notou que não caminhava rápido porque as pernas eram fininhas... Foi nesse passo que seu avatar encontrou uma criança que perguntou se ele precisava de ajuda. Cabreiro, ele e a mulher não sabiam como proceder, resolveu sair caminhando e pensou rápido numa saída mentirosa. Disparou:"sou gay", para não ser incomodado por sabe-se lá quem.
Descobriu, em seguida, que o avatar infantil, na verdade, era o tutor do ambiente e explicou para ele que deveria sentar seu boneco num banquinho, para as perninhas ficarem mais fortes e fazer outros tantos processos.
Depois de um tempinho circulando, ele cansou dessa segunda vidinha mais ou menos e voltou para a realidade.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

A vida, as lavadeiras e o ofício

Esse Graciliano é muito bom. A gente deveria levar a vida dessa forma, como devemos levar nosso ofício.




"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948

Suco de melancia e cultura organizacional

Ouvi tanto falar de cultura organizacional nos últimos dias que lembrei do suco de melancia na Barra. Explico: no bairro da Barra, em Salvador, Bahia. Era quarta-feira de cinzas, manhã um pouco chuvosa e resolvemos, eu e meu marido, caminhar na orla e tomar um suco de melancia. A coisa mais simples e comum.
Mais ou menos.
Parei na primeira lanchonete/bar que estava aberta: três atendentes, vários fregueses e um enorme saco de laranjas que uma das atendentes cismava em arrumar e colocar, uma por uma, num compartimento de vidro, em cima do balcão.
Pedi meu suco de melancia. A atendente do balcão _ com uma bandana dizendo: Sou chicleteira (para quem não sabe, isso quer dizer que ama/adora/venera o Chiclete com Banana, banda do trio que leva o mesmo nome e uma multidão de fiéis enlouquecidos, que são chicheteiros de alma e roupa (mas isso é outra história que um dia eu conto)_ gritou para a outra balconista o pedido.
Mais duas pessoas chegaram, pediram suco de laranja, tomaram o suco e nada do meu pedido. No terceiro freguês, voltei a lembrar a atendente do suco de melancia. Ela repetiu a cena. A balconista, continuou no mesmo ritmo de tirar a laranja do saco e colocar num compartimento de vidro.
Depois de uma espera baiana, repeti o pedido. A mesma cena se desenrolou. A balconista, depois de olhar bem para as laranjas, disse finalmente que não tinha suco de melancia. E voltou ao seu trabalho.
Debaixo do balcão era visível a enorme melancia fechada.
Não discuti. Afinal, era o finzinho do carnaval.
Fui para uma outra lanchonete e tomei o meu suco de melancia. Voltarei mais vezes.
Quanto à primeira, esquece. Nenhuma chance de pisar de novo onde não consigo ter meu pedido atendido.
Moral da história: a laranja estava ao alcance da mão. Era só cortar, passar no espremedor e encher o copo. Como a balconista fazia na maior parte do tempo, dia após dia.
A melancia precisava ser cortada, retirada uma fatia, a polpa, bater no liquidificador, coar e servir. Ela achou que dava muito trabalho. Melhor ficar com o que costumava fazer, com o conhecido.
Mudar um hábito leva algum tempo.
Mas pode correr o risco de perder o freguês.

Obs: Escrevi este texto em abril deste ano, depois de dois cursos de gestão (de pessoas, processos e negócios) e muitos artigos para ler sobre o assunto. Estou pesquisando, acredite, essa coisa de gestão em jornalismo. Tentando entender como colocar em linguagem de gente essa coisa chata que os cara pregam na sala de aula.

domingo, 8 de julho de 2007

Doces e salgados

No tabuleiro tem de tudo. Doces e salgados tradicionais, mistura nordestina, carioca e gaúcha. Risadas e causos sérios. Lembranças e futurologia. Um caldeirão de jornalismo, culinária, fotos, gestão, viagens, família, amigos, curiosos, piadas e análises. Uma experimentação.